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"Eterno Intermitente"

Galeria Braço Perna 44 | Lisboa | 2025


Nas mãos de uma criança um traço é pura descoberta, uma cor é puro prazer. Depois vem a voz que educa, diz: não ultrapasses os limites da figura, escolhe as cores de acordo com o real, por exemplo, as folhas são verdes, os troncos castanhos, o sol amarelo e assim por diante (mas estarão certos?). Depois vem a escola, as academias, os mestres, os críticos, cultiva-se aí a arte, o processo artístico. O certo e o errado complexificam-se, a descoberta e o prazer são trocados pela erudição, pelo saber (mas o que sabe esse saber?). A criança fica perdida, hesita nos gestos, falha a alegria. Isto, dizem-nos, é a grande arte, a alta cultura, etc. e tal (mas valerá o sorriso da criança?).

 



A arte de Ângela Dias nasce de um mundo interior com leis e razões próprias. Nós não conhecemos esse mundo, talvez nem a Ângela Dias o conheça. Mas as suas obras vêm de lá, são janelas para um lugar onde o fascínio da imagem reina sobre as sombras que cercam a nossa existência. E alheia ao que de fora a interpela, avança não saber adentro. Não se refugia numa fórmula ou num programa, não reverencia o bom gosto ou o bem feito académico, sabemos bem aliás aonde esses becos nos levam. É uma obra viva que não teme a imperfeição, a interrogação, o desconhecimento, um organismo que indaga de olhos fechados a coincidência consigo.

 

Animal e vegetal indistinguem-se unidos pelo impulso primevo. Mulheres cujos braços sugerem caules pendentes, letras que são cílios, estames, tramas que são corpos, forças que se combatem, conjugam, linhas finas que lembram redes de vasos sanguíneos, mas poderiam ser raízes, enleio de ramos, folhas, corolas, formas que divergem e incessantemente se repetem. E sempre o mesmo movimento da vida. A mesma teimosia da vida. Fome incansável, labor incansável. Busca que ignora o seu último sentido. Busca que talvez não tenha último sentido. Para lá de procurar, obstinadamente procurar.

 

Tento dizer: aqui estamos um passo atrás do pensamento, perto da razão cega da vida. Muito longe, contudo, de uma arte espontânea ou ingénua. Trata-se de uma arte complexa e reflectida, na composição, na textura, no uso da cor e do espaço por ocupar, na subtileza das linhas narrativas que inscreve, mas que não se perde nunca do júbilo da criação, da liberdade de ser, inteiro acto de existir antes do pensamento o aprisionar na forma dos conceitos. É por isso que é difícil escrever sobre a obra de Ângela Dias. Porque ela antes de mais ensina-nos a ver e calar. Ver e ser feliz num mundo onde as palavras são supérfluas.

 

Jorge Roque

 

 

 


 




 


 


 
 
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