"Coterie", do Colectivo Est Secum
- angeladiaspt
- 20 de nov. de 2014
- 3 min de leitura
Atualizado: 19 de mai. de 2023
Lisboa | 2014 | Ana Morgadinho, Ângela Dias, Catarina Osório de Castro, José António Quintanilha, Luís Luz, Maria João Brito, Nuno Barroso, Pedro Calhau e Ricardo Pires
Podemos pensar a transparência próxima da universalidade e da inteligibilidade das leis - universalidade das leis, enquanto leis aplicáveis a todo o Universo, ao Todo, a tudo, e universalidade da inteligibilidade, acessível ao universo dos seres racionais. A transparência revela o escondido, abre, expõe, atravessa, liga tudo. Comunica.
Sendo a transparência, à letra, uma qualidade visual, uma maneira de atravessar o que
aparece, essa universalidade racional tende a apoiar-se nos sentidos. E a ultrapassá-los: o
cálice onde Uccello (?) ensaia a perspetiva ou uma cabeça de Gabo não se deixam atravessar pela luz. A luz que os atravessa não é sensível, é a da razão, a do saber - mas, também poderia ser luz metafísica e espiritual…
San Lorenzo, em Florença, dialoga com a razão, com a visão, com o saber - mas, em Paris, a
Sainte-Chapelle orquestra um espetáculo de cor, onde a luz do Sol se transubstancia em luz
divina pelos vitrais.
Uccello inscreve uma ordem que Gabo desordena: “tudo o que é sólido desfaz-se no ar”.
Troca-se o dentro e o fora, o côncavo pelo convexo, os cheios e os vazios, o visível e o
invisível…
A transparência ameaça, visualmente, a massa, o peso, a matéria: como acreditar que o
transparente aceita esses outros predicados, como acreditar que as coisas transparentes,
invisíveis, também são maciças, pesadas, duras?
Por aqui, a transparência rumo à desmaterialização. Dos perspéticos aos modernistas
geralmente anti-perspécticos, a transparência encontra recurso formal frequente na
substituição dos tácteis volumes pelos visuais planos. Bidimensionalidade - até para pensar a
escultura.
E a pintura no epicentro: a opacidade da pintura moderna procura a transparência da janela.
Mas, procura-a, inevitavelmente, através das opacidades da tela e das tintas. Pulsação radical da imagem entre visíveis e invisíveis, entre matérias e desmaterialização e rematerializacões, entre bidimensional e tridimensional, presenças e ausências.
O bidimensional parece que vai a caminho da desmaterialização: e, depois, tantas vezes, é por aí mesmo que encontra a matéria. Por aí mesmo é que a imagem se faz objeto. Tão nua e
verdadeira e plana a falsamente olímpica Olympia no seu quarto que se esquiva à
profundidade - e tão fortes pulsam a tela e as tintas sob a imagem. O Sr. Picasso colará papéis nas telas e a transparência revelará opacidade e a imagem objetos e os objetos imagens, a transparência que abre o fechado e torna visível o invisível e bidimensionaliza o tridimensional.
E a tela será um território junto ao chão, para onde o artista ator atirará matéria que, por acaso e por enquanto, ainda é tinta, por enquanto, antes de serem pneus empilhados num beco nova-iorquino. E o quadro poderá pensar-se como um flatbed picture plane, depois de já se ter feito e pensado perto da escultura, em equívoco com ela.
Imagens e objetos. Imagens em objetos: como as fotografias que saltam de suporte em
suporte, se multiplicam e reaparecem, uma e outra vez. Imagens de imagens, que preservam e inventariam e arquivam - e transformam. Teria o Sr. Duchamp, o Marcel, modificado a
pilosidade da incógnita dama de Leonardo se só dispusesse do original do Louvre? A imagem
no museu, a recordação do museu - a imagem que já é museu. Pintar a fotografia, pintar como uma fotografia, fotografar como a pintura.
E a moldura, que se abre para o quadro que se abre para a história e para os mundos quando as presenças dos materiais aceitam dissimular-se para simularem a sua própria ausência - e a moldura? Bom: digamos, por agora, que está ao lado - também ela visível e invisível, presente e ausente, fechando e abrindo, separando e ligando. Por todos os lados.
José António Leitão
Parede, 20 de Janeiro de 2010 - 30 de Outubro de 2014
OBRAS ADQUIRIDAS

EXPOSIÇÃO COLETIVA | "COTERIE" | 2014
Sem Titulo
Material: acrílico e tinta-da-china s/pano preparado
Medidas: 152 x 150 cm

EXPOSIÇÃO COLETIVA | "COTERIE" | 2014
Sem Titulo
Material: tinta-da-china s/papel
Medidas: 59 x 42 cm

EXPOSIÇÃO COLETIVA | "COTERIE" | 2014
Sem Titulo
Material: tinta-da-china, guache e colagem s/papel
Medidas: 59 x 42 cm


















